Relações Geográfico-africanistas

João Francisco da Costa

Maio de 2007

 

Conhecimentos Ocultos

 

A reflexão sobre conhecer o sentido dos mistérios existentes entre os diversos mundos existentes deve ser feita de
forma simples e com verdade nos corações.
Compreender aquilo que não se pode enxergar, muitas vezes é estranho à nossa realidade; pior ainda, é fazer com
que outras pessoas possam tentar conceber aquilo com que lidamos e respeitamos.
O amor ao estudo, ao aprendizado, as situações diversas às quais os diversos mundos espirituais e matérias nos
apresentam em nossos cotidianos, devem ser permanentes.
Não é possível que consigamos sobreviver sem que consigamos crer em algo. É e faz parte do seres humanos
buscarem respostas às questões às quais não compreendem ou não vêem.
O aprendizado deve ser cauteloso, contínuo e deve, além de mais nada, servir de educação a nosso caráter.
Buscar respostas em outras respostas não é um ato simples.
Conhecer as diversas religiões, os variados cultos, os diversificados sistemas de passagem, rito e
institucionalizações requer paciência, tempo e, sobretudo, determinação e persistência.
Nunca conhecemos tudo, porém, o que conhecermos será o todo.
Em especial, as religiões de cunho africano devem ser compreendidas como um todo, um elemento pertencente à
natureza, pois esta é o todo.
A sacralização de animais, vegetais, minerais entre outros elementos, faz parte da adoração e veneração dos
seres superiores, tão próximos e distantes de nós ao mesmo tempo.
As relações se estabelecem no plano do sentido, da intuição, da (co) ligação com os elementos e elementais
presentes no dia-a-dia ( água – ondinas; terra – gnomos; fogo – salamandras; ar – silfos e espírito – éter).
Analisar o balanço das águas do rio ou do mar faz-nos compreender os movimentos intrínsecos existentes nesse
plano: A formação da água (duas moléculas de Oxigênio e uma de Hidrogênio) poderia nos levar a pensar nas
lendas iorubanas, onde precisaríamos de duas vezes a força de Obatalá (Primogênito de Olorum) e uma vez a
força de Oduduá (Filha de Olòórum) para a formação desse elemento, demonstrando a força da mulher.
Além disso, a força presente na água, nos remete a pensar em suas periferias, nos lamaçais, nos lodos, em Nana
Burukum, que para muitos, da família de Gege, seria ela mais velha tanto em idade quanto em culto, que o
próprio Oxalá. Seria Ela a avó dos orixás (nomes Iorubanos às entidades), dos Voduns (Gege ), dos Inkices
(Bantos). É ela o pântano, que forma a água, é dela que surge a nascente, a mistura entre a Terra (Ayê) com o Ar
(Ofí), que embarrada combinada, dá a forma ao brejo, ao nascedouro.
Buscando a combinação primordial do culto, nos deparamos com o rio, que provindo do alto, do morro, da
pedreira, alicerçou seu canal, lapidou suas rochas, criou suas curvas, com a finalidade de diminuir sua força e
não machucar a natureza que a sua margem se desenvolveu, dos próprios nutrientes, que seu elemento
proporcionou. Oxum, Ibualama, Logun Edè, lá estão, lapidando os ocutás, os otás, as pedras sagradas ao culto,
à preservação da cultura que por milênios é conhecida. Rio, que procura o mar, que forma a baía, as enseadas,
que nasce de costas com outro rio em um divisor de águas; que corre e trás consigo a corredeira, planalto abaixo,
que constrói cachoeiras, cascatas, onde a sagrada Mãe descansa, onde dança, onde cria o limo, o musgo, broches
inseparáveis de sua conduta de beleza. O meio do rio, o lugar mais profundo, por onde Ibualama demonstra seu
poder, seu potencial de humanidade, permitindo a esta a navegação, o transporte, daquilo que a própria Mãe
Oduduá nos deu.
O alimento do rio, a chuva, aquela que trás de dentro do continente, da plataforma continental a força da
pureza renovada, da evaporação, condensação e precipitação da água que carregou, em um ciclo perfeito, mágico,
de imponência.
O alimento da humanidade, os peixes e demais formas vivas nascentes nos rios, que de inúmeras formas
alimentarão à humanidade, aos demais seres que dele necessitam, a cadeia alimentar que depende do rio, do
transbordamento desse, os próprios Egípcios conheciam o poder no Nilo, o húmus, novamente o alagado,
somente que dessa vez de forma contrária, a formação que deu a água, agora dá a fertilidade, a agricultura, a
forma de subsistência, um agradecimento a Ísis, a Oxum, a Nanã Burukum.
Rio que formou o delta, que trouxe seixo, sedimentos, aluviões, que putrefaram, se decomporuseram, se
transformaram em pequenas ilhas, que deram condições de vida a formação de florestas, de lugares de moradia de
outras espécies que vivem sobre a Terra, que produziram e formaram portos, cidades, Alexandria, Baía de Todos
os Santos.
Encontros de águas que ora coloradas de azul, de verde , de negro, conforme seu sedimentos, conforme a
vegetação ao redor, conforme a incidência dos raios do Sol. Pigmentos refletidos nas faixas do Verde, do
Vermelho, do Azul, do Negro, cores reflexos; reflexos do Sol sobre a água (insípida, inodora, INCOLOR). Um
processo de milagre, de diferenciação de cores por nossos olhos, de natureza incompreensível.
Rio que é abastecido e se abastece; que se esconde nas profundezas das rochas (Xangô ou Ogum), formadas de
magma através do processo evolutivo, de pressão, frio, calor, metamorfizando-se, distorcendo-se em outras
formas, filtrando essa água. Rochas que foram cozidas, areias que se transformaram em esponjas naturais, que
coam a água e fazem-nas permeabilizar-se para diferentes partes, para diferentes localidades, com o princípio de
alimentar a Terra, em fases de dificuldades, para mostrar-se ao terreno em desnível, para formar o Oásis (Riad,
Damasco). Lugar de pouso de repouso, de certeza de sobrevivência.
Um novo mundo, as areias, as rochas, os oásis, a perpetuação. A água dá lugar a formação de novas concepções,
de novos lugares. A força existente no interior da Terra, vaporizou a água durante milênios, transformando-se
em nuvens, que num movimento constante jogavam-se novamente à terra em forma líquida e novamente
retornavam a Alta Troposfera.
Força que é capaz de fundir, de liquefazer, de transformar o mais consistente mineral em líquido, viscoso,
pastoso, quente.
Ferro, Níquel, Enxofre, radiação e fissão, agruparam-se, renderam-se e rendem-se a força do fogo, da combustão
pela fissão, pelo incontestável.
Magma, forma necessária à sobrevivência do planeta. Calor. Condição de formação da vida. Derrete e solidifica,
a rocha surge e com ela Xangô, temperamental, verdadeiro, sólido e maleável, resistente ao calor e ao frio, porém,
a persistência não é seu forte, racha-se, quebra-se, se transforma e retorna a seu estado original.
Ocutá, otá, rocha que dá o minério, que formou o petróleo com os elementos de soterramento, sedimentou-se,
modificou-se. Xangô demonstra sua astúcia, libera a pressão interna de seu eu: erupção: Óxido de Enxofre,
Óxido Nítrico, poeiras, fuligens, vaporiza algumas “pedras”, para novas formar; quem sabe um novo relevo?
Uma nova bacia sedimentar? Um novo vilarejo em centenas de anos?
Lava, que queima, que renova, que renasce e descansa no mar. Solidificação que muda a paisagem, os aspectos
naturais. Um novo processo.
Basalto, Granito, Mármore, Calcário. Tudo posto, tudo construído, tudo necessário. Formas de vida que não
falam, mas que estão lá, firmes, fortes, resistentes, que formam a garganta de Xangô (o penhasco, o abismo, os
aparados).
Forças contínuas e sábias que exterminam formas de vida e dão condições a outras (Foi uma rocha que veio do
espaço para dar fim à existência dos grandes répteis).
Rocha que formou o talude continental, os escudos, o fundo do mar, a plataforma continental e as paredes das
fossas marinhas. Rochas que dão sustento à vida humana, que guardam sobre si as cidades, os prédios, os
arranha-céus.
Força que se guarda na Astenosfera, limite entre a Litosfera e o Núcleo de Poder do planeta.
Rochas lapidadas, removidas, desfragmentadas em seus componentes químicos, que irão nutrir-se com os
elementos proporcionados, dando origem a vida na Terra. Outro processo: a vegetação. As folhas, as matas, os
musgos, os liquens, a Leiva.
Planta? Forma viva. Sim, a força do conhecimento secreto, do Eró (Segredo do Orixá), a formação das florestas
no frio, no calor, nas chuvas, nas secas.
Florestas estas, que recebendo grande pluviosidade associadas ao termo ombrófilas, mantém constante
evapotranspiração, mantendo a umidade, preservando o sistema, o ecossistema. Leiva que corre em suas folhas,
que as fazem crescer, que procuram o Sol, a força da vida para o planeta. Florestas gigantes, Latifoliadas semi
deciduais, que se transformam em paraísos vegetais, de formas que entre si se transformam, que demonstram a
força de Ossaim, a força do segredo da cura e da morte, que reservam os segredo de Oxossi.
Plantas que tratam a natureza como mãe, como progenitora. Florestas essas que podem ser caducas, caducifólias,
que perdem suas folhas para nutrir o solo em época de escassez de água, de nutrientes, que se desenvolvem no
calor, e no calor do fogo, da queimada natural, para formar seu ciclo, pois depositaram grande quantidade de
folhas, de galhos, em ambientes quentes, em ambientes propícios; plantas xerófilas, que enceraram e
transformaram suas folhas em espinho, para não perderem água, quando da falta dessa.Coníferas de Taiga, que
envergaram suas folhas enceradas, para absorvem em segundos água em forma de gelo, que provém do céu e se
assentam em suas copas. Leivas diferentes, sangues diferentes que produzem Ossaim, Ode, Oxossi.
Plantas que crescem e se desenvolvem nos lugares mais inóspitos, frios e quentes, que com uma carga nutricional
podem ser um gramínea ou um jatobá ou uma palmeira, que colhida no momento correto, produz o vinho de
palma, que agrada e fermenta a mente humana, que trás consigo a belicosidade de experimentar outro lado da
Mãe que não conhecíamos, o entorpecer, que nos proporciona viver em outro mundo, da percepção, da mistura,
da fineza e da dureza, como o Ferro, o Aço, a força interior do planeta.
As ligas metálicas tão trabalhadas pelos primeiros humanos, transformadas, transportadas, a força Ogum, que
forja e amolece os mais resistentes. A força que existe em cada um de nós, de perspicácia, de persistência, que cria
ferramentas (ancinhos, enxadas), com o cunho principal da agricultura, da subsistência, da continuação da vida
pela alimentação, do trabalho árduo e viril, mas assim como na natureza, brusco, rude, de Sol a Sol, que torna os
homens ríspidos, sérios, sinceros. Ogum, força da forja, da fé e da vontade de procriar, mesmo em terrenos difíceis,
secos ou perto de água salgada, enseadas, baías.
Baías, penínsulas, forças mágicas de reentrância da terra nos domínios do mar (Yucatã, Bahia de todos os
Santos), águas revoltas e revoltosas, que demonstram potencial do carregamento dos produtos (des) compactados
dos continentes em direção ao Oceano. Península tempestuosa, que profundas águas apresenta em correnteza
superficial. Baía, que guarda as algas cianofíceas, que produzem o oxigênio a eternidade humana.
A força Obá, brava, amorosa, rancorosa, nutre as algas que nos sustentam, que nos dão Emi (sopro da vida), Ofi
(ar), mas que com um simples movimento a seu capricho, mudam a direção do canal, do estuário, a saída de água
doce, nutrindo outros e minguando nossas necessidades